terça-feira, 29 de abril de 2008

I Concurso Literário Âncora

O Júri do I Concurso Literário Âncora já deliberou quais os vencedores das várias modalidades propostas:



Poesia Vencedora:

Sinto-me triste
Triste e magoada.
Triste. Magoada. Sozinha.
Triste. Magoada, Sozinha. Vazia...
Sinto-me ferida.
Ferida como se me espetassem em meu peito uma faca...
Ferida como se envenenassem meu prato...
Ferida como se me esmagassem meu coração...
Ou simplesmente ferida...como um passarinho que tem a asa partida!
O meu coração verte sangue
E a dor, é a mais dolorosa das dores...é a dor de quem ama...
Amei-te como nunca
Jamais em tempo algum houvera experimentado tal sentimento...
Um sentimento que nos preenche...
Um sentimento que fortalece...
Um sentimento que substitui o alimento...
Um sentimento sentido...
Um sentimento que atordoa os sentidos, que estremece o corpo, que perturba a alma, que faz sorrir o coração...
Um sentimento que nos eleva aos céus e permite sentir o nunca sentido.
permite sonhar o nunca imaginado, permite viver o nunca vivido...
Mas como um sonho numa quente noite de Inverno, que nos aquece e depois desaparece. Deixando o frio apoderar-se de nós. Também tu me deixaste... no meu leito sozinha...desejando que não fosse só um sonho...à espera que aparecesses outra vez...Volta por favor, gemia eu...
Finalmente apercebo-me que estou realmente sozinha... nunca exististe meu amor!

Cláudia Viegas


Crónica de opinião vencedora:

A mediania de Portugal

Portugal deve ser o país com mais cronistas per capita! Isto porque não há melhor que o nosso país em si para servir de ingrediente para cozinhar uma crónica consubstancial e bem cheia de veneno à nossa boa maneira. (Só com esta metáfora gastronómica já ganhei um convite do Goucha para ir ao “Você na TV”!) Bem sei que o tema não prima pela originalidade mas convenhamos que o filão é inesgotável. Daqui por umas quantas dezenas ou centenas de anos já não haverá petróleo, já quase não haverá florestas, já não haverá uma carrada de espécies animais que entretanto se extinguirão graças à nossa (in)operância, mas uma coisa que haverá sempre, por este mundo fora, são motivos para falar/escrever sobre Portugal.
E se é verdade que não há ninguém melhor para opinar sobre Portugal que o Português, ou “Tuga”, na sua designação comum; sempre que um deles o faz, neste caso eu, fá-lo colocando-se no lugar de um cidadão de um desses outros países, daqueles que não interessam nada (porque com o mal dos outros pode o Tuga bem…), a não ser quando queremos um termo de comparação para o nosso país.
A conclusão a que cheguei após algum tempo de meditação sobre os nossos comportamentos na medida em que são condicionados pelo local onde nascemos e/ou vivemos, é que não existe país mais MÉDIO que Portugal. Portugal é o exemplo da mediania per se! Há os países desenvolvidos e os países em vias de desenvolvimento (só para não utilizar a expressão “3º Mundo”) e depois, ou melhor, e bem no meio, há Portugal! Ou seja, não jogamos nem na primeira divisão, logo não temos hipóteses de ir à Champions, mas também não jogamos na terceira divisão, entre os amadores que até têm outras maneiras de ganhar a vida; nada disso. Portugal pertence a uma espécie de 2ª Divisão B, em que já somos profissionais, mas não conseguimos “ganhar a vida” com o que temos. Isto, meus amigos, é Portugal.
Não há povo que mais se queixe e lamente da sua situação actual desde há 800 e tal anos que Portugal e os Portugueses! Por outro lado, somos um país que conserva orgulhosamente as suas tradições mais ancestrais: D. Afonso Henriques, o fundador da nossa bela nação, segundo consta ofereceu a sua mãe D. Teresa um arraial de pancadaria que a fez desistir do que quer que fosse que ela tinha em mente, se é que isso alguma vez interessou na história. O que ficou para a História mesmo foi só o acto que passados 8 séculos e incontáveis gerações de Afonsos continua a ser fielmente reproduzido pelos nossos responsáveis e exemplares chefes de família que aplicam o correctivo à esposa de cada vez que o Benfica perde, que é como quem diz de quinze em quinze dias…
Voltando à nossa mediania, somos um país de tal maneira médio que todo o mundo civilizado e ainda os americanos pensam que somos uma província de Espanha (espanhóis inclusive) mas que duas províncias de Espanha, perdón, duas regiões autónomas, nos olham como o irmão mais velho cujas pisadas da independência querem seguir! Os bascos até têm uma organização terrorista, algo que, lá está, só está ao alcance dos países em vias de desenvolvimento como o a Palestina, o Líbano, os EUA, Colômbia e Madeira, por exemplo, que partilham entre eles o Hamas, o Hezbollah, o Ku Klux Klan, as FARC e o Alberto João Jardim respectivamente! Já a Catalunha, por exemplo, recusa-se a falar espanhol, aliás, castelhano, que é só a língua oficial mais falada no mundo; para falarmos estes dialectos primitivos que são o Catalão e o Português, aliás, Brasileiro, não esquecendo o novo acordo ortográfico da Língua Portuguesa!
Outra prova da nossa mediania reside nos serviços públicos que o nosso Estado deficitário nos oferece. E tem piada um país que vive (ou deixa de viver) em função do défice, tratar tão mal os seus deficientes, mas lá está… isto não é nada de objectivo, não são factos, é só a minha má língua e um trocadilho barato! Mas adiante: o nosso sistema educativo, por exemplo, é criticado pelos imigrantes de Leste, habituados à disciplina cega e extremamente exigente do ensino nos países onde o comunismo reinou durante 60 anos. Sem dúvida é um ponto a reter, nesses países provavelmente os alunos nem olhavam directamente nos olhos os professores, muito menos dirigirem-se-lhe nos termos em que a já famosa menina Patrícia, 15 anos, se dirigiu à sua “stôra” de Francês ao proferir a épica frase «Dê-me o telemóvel.. JÁ!»! Por outro lado, os americanos não vão de modas, e antes de dizerem bom dia aos colegas e professores, com uma UZI numa mão e uma Glock na outra, dão logo um cumprimento de “rajada” a toda a gente, et voilá! Aparecem logo na edição extra do telejornal e o Michael Moore faz um filme sobre eles! Uma vez mais, e apesar de tudo, voto pela nossa mediania!
Mas não é só cultural e socialmente que Portugal é um país mediano! Geográfica e politicamente também o é! A nossa área é gigantesca quando comparada com o país mais pequeno do Mundo, o Vaticano, que pouco maior é que o meu quintal (embora um bocadinho mais rico), mas quase insignificante quando comparada com a Sibéria, que é só uma província da Rússia! Agora imaginem o que pena a malta do INEM dos sovietes… Em termos de população, podemo-nos comparar com Angola, que tem 14 vezes a nossa área e os equivalentes 10 milhões de habitantes, ou com a Holanda, que é cerca de um terço do nosso tamanho mas tem uma vez e meia a nossa população! Já em termos políticos também somos uma tristeza de tão medianos que somos: não há um escândalo de corrupção de jeito, nem tão pouco uma sessão de luta livre como no parlamento japonês. Há sim, algumas dúvidas em relação à licenciatura de um primeiro-ministro, aos negócios de marfim de um ex-presidente da república, e ao respeito pelas regras de etiqueta (e por um pedaço de bolo-rei) de um presidente da república que por acaso é um ex-primeiro ministro, demasiado morno. Para quem já esteve num extremo, sendo governado por um homem com nome de utensílio de cozinha, detentor do recorde mundial recentemente quebrado pelo grande Fidel, e tendo em conta que o apogeu da democracia são dezenas de velhos enclausurados numa igreja com 400 anos a votar o seu líder, a fumar incenso e a só terminar esse processo quando incenso e boletins de voto tudo queimadinho numa salamandra fizer fumo branco, até o nosso índice democrático é mediano.
Resumindo, as coisas neste cantinho à beira-mar plantado, a que um dia os Romanos chamaram de Lusitânia, não são boas nem más, antes pelo contrário. Como imortalizou o próprio Júlio César no relatório da sua comissão de Pró-Cônsul na Hispânia: «Há nos confins da Ibéria, um povo que nem se governa, nem se deixa governar…»

Luís Roma


Conto Vencedor

O Fora da Lei

Jeremias era um grande atirador e também um ladrão profissional. Foi a escola que o seu parente, com quem foi criado, lhe deu.
Com apenas 22 anos de idade Jeremias abandonou a quadrilha visto que o seu parente e restantes comparsas não lhe deram parte num assalto a um Banco. Resignado, Jeremias começou a trabalhar por conta própria e para isso arranjou um abrigo numa gruta no cimo de uma montanha ainda não descoberta.
A mesma gruta que tinha no fundo um pequeno curso de água que desembocava num grande lago, no qual abundava muito peixe. Muitos pássaros ali faziam os seus ninhos, pequenos orifícios por onde penetrava a luz do dia.
Jeremias quando tinha necessidade de ir à caça seguia os animais mais do seu agrado, tendo carne com fartura assim como peixe. Só lhe faltavam os condimentos tão necessários à confecção dos seus petiscos. Estes, Jeremias comprava-os nas lojas situadas nas proximidades do seu esconderijo…
Quando o dinheiro se acabava, Jeremias, na calada da noite, descia a montanha e escondia-se nas proximidades da entrada por onde passavam os viajantes. Assim, Jeremias emboscava-os e roubava-lhes o dinheiro que levavam para assim comprar o que necessitava. Quando algum viajante se recusava a dar-lhe dinheiro, Jeremias maltratava-o indo até mais longe, ou seja, tirava-lhe a vida e arrastava-o para trás dos arbustos e logo as feras se encarregavam de dar sumiço aos seus restos mortais.
Numa dessas noites de emboscada, Jeremias foi surpreendido por uma bela rapariga que lhe contou que era uma infeliz prostituta e que os seus pais tinham falecido era ela ainda uma menina. Surpreendido e sensilibizado com a história, ele permitiu-lhe que continuasse a relatar-lhe o infurtunio. Ela continuou a relatar-lhe a sua triste sina e confidenciou-lhe que tinha vivido com a sua avó em condições muito precárias. Em virtude da sua avó ter morrido, e não tendo como viver condignamente, a única alternativa que lhe restou foi enveredar pelo caminho da prostituição. Jeremias ficou comovido com a história que tinha acabado de ouvir e ofereceu-lhe protecção. Lado a lado caminharam até à gruta e já instalados ele preparou-lhe um caldo e estendeu no chão várias peles de animais para que ela pudesse repousar. O cansaço acabou por tomar conta de ambos, tendo ela adormecido de imediato. Ele ainda ficou a contemplá-la por uns minutos mais. Ao nascer do dia, foram banhar-se no lago de águas cálidas e transparentes. Ao vê-la nua no lago, Jeremias ficou deslumbrado com tamanha beleza. Jeremias ficou completamente atordoado e no regresso, sentiu que o seu coração estava a apaixonar-se…
Ela, consciente da sua beleza e do efeito que causava nos homens, aproximou-se maliciosamente dele e, pela primeira vez, Jeremias soube o que era fazer amor. O romance entre eles dois floresceu e quando o dinheiro escasseava, Jeremias sabia onde o ir buscar.
Dois anos depois, Guida começou a dizer que tinha saudade de ver o dia amanhecer em liberdade na companhia de Jeremias, o qual a escutou sem responder. No dia seguinte, Jeremias foi para a estrada e encontrou um viajante embriagado com muito dinheiro. Desta vez, o valor que o viajante transportava era suficiente para nunca mais voltar a roubar. De regresso à montanha disse à Guida que que não mais voltaria a roubar pois tinha em suas mãos uma grande fortuna e que iriam realizar os seus mais secretos sonhos. Combinaram partir para o estrangeiro, para lá passarem o resto das suas vidas. Assim, Jeremias desceu a montanha e comprou vestidos e sapatos para ela, bem como um fato para ele e um par de sapatos…
A caminho da América, Jeremias e Guida eram um casal de enamorados felizes. Quando lá chegaram, compraram uma quinta e lá começaram a viver cheios de esperança e felicidade.
Os bons petiscos nos restaurantes, o cinema bem como o teatro, enfim, todos os prazeres da vida, eram por eles festejados, levando uma vida de ricos cidadãos.
Durante seis longos anos tudo correu à mil maravilhas mas a pouca sorte voltou a bate-lhes à porta. Um dia, Guida adoeceu e passados quatro meses entregou a sua alma ao criador. Jeremias, desolado com a perda da sua amada, ficou de rastos.
As despesas decorrentes da enfermidade de Guida bem como as despesas do seu internamento e funeral, deixaram Jeremias na miséria. Para pagar as suas dívidas Jeremias viu-se obrigado a vender todos os seus pertences e com o que lhe restou comprou a passagem de volta ao seu país. Chegado aí, Jeremias dirigiu-se à gruta onde tinha vivido alguns momentos de angústia decorrentes da sua vida de malfeitor bem como os melhores momentos de amor passados com a mulher da sua vida.
Uma forte comoção apossou-se dele ao entrar no sítio onde tinha saído o homem mais feliz do mundo e não conseguiu conter as lágrimas tendo chorado copiosamente durante muito tempo… Deitou-se sobre peles que outrora tinham sido o leito de Guida e adormeceu.
Sem dinheiro e infeliz voltou de novo à estrada na esperança de encontrar um outro qualquer viajante que lhe desse as suas posses sem ele ter de recorrer à violência. Tal não aconteceu pois o viajante assaltado era corpulento e ofereceu resistência tendo travado uma luta bastante acérrima. De repente, apareceu em defesa do agredido um outro viajante. A luta entre os três intensificou-se tendo Jeremias disparado um tiro para o ar. Um deles , enfurecido, puxou também pela sua arma desfechando um tiro na perna de Jeremias. Este, sentindo-se ferido, puxou pela sua pistola disparando dois tiros, tendo desta vez acertado mortalmente os dois homens… Ferido, dirigiu-se para o seu esconderijo.
Os corpos forma encontrados e de imediato as autoridades locais deram início à caça ao homem.
Dez cães e vinte guardas vasculharam toda a floresta e quando subiram a montanha, para espanto de todos, viram um homem ferido que, sem qualquer resistência se entregou às autoridades…
Algemado, acompanhou os guardas até ao tribunal tendo o juiz condenado o infeliz a prisão perpétua.
Já na prisão, Jeremias recordava com saudade, a sua querida companheira e muito chorava pela sua desgraça. Quinze dias depois, foi encontrado morto. Enforcou-se, tendo deixado junto ao seu corpo estes versos escritos:

A minha vida foi um martírio
Mas tudo acaba e tudo tem um fim
Uma coisa que eu peço
Que não mais se lembrem de mim

Os melhores momentos que passei
Foram passados com a Guida Serafina
Dela sempre me lembrando
Ah… que saudades dela eu tinha!!!


Aldomiro Quinta


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