segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Desejos de Natal

O ano em que o Fado foi reconhecido pela UNESCO como património imaterial da humanidade, em que se comemorou o ano europeu do voluntariado e em que Portugal sucumbiu à crise está prestes a chegar ao fim com a proximidade de mais um Natal…
Este foi para muitos um ano difícil…
Novos problemas: velhas soluções ineficazes. Novas necessidades: velhas formas de as ver. Novos desafios: velhas barreiras. Novos velhos: velhas respostas sociais.
A evolução acontece. As mudanças urgem fazer-se sentir. As famílias têm agora novos desafios para os quais precisam de respostas ajustadas.
Sobreviver às medidas de austeridade deixa-nos pouco tempo para dedicarmos à reflexão, mas sem ela será difícil conseguirmos perceber o que sente o outro, o que deseja ele para si numa altura da vida em que, tantas vezes, se vê mais fragilizado pelas inúmeras perdas que tem de gerir e para as quais é preciso encontrar um sentido.
"O meu pai tem Alzheimer… e agora?" Vamos tirá-lo da sua casa (submetendo-o a mais uma perda) e integrá-lo num lar de idosos onde tudo e todos são estranhos, aumentando a probabilidade de evolução rápida da doença (já para não falarmos no risco da sobremedicação ou do uso das faixas de contenção nas fases mais agitadas da doença, porque podem ser apenas preconceitos adquiridos em antigas experiências profissionais)? Vamos tentar um centro de dia e esperar conseguir gerir o melhor possível toda a alteração das suas rotinas, porque também passará o dia com pessoas que não conhece e num espaço estranho… mas pelo menos volta para casa ao final do dia? Ou pedimos apoio domiciliário para os cuidados básicos que só podem ser prestados entre as 8.30h e as 17.30h, porque é esse o horário de funcionamento da resposta social e deixamos de fora as mais-valias de uma estimulação cognitiva (social e física, porque não podemos deixar de ver a pessoa como um ser biopsicossocial) adequada? A decisão pode ser ainda mais difícil se a cuidadora principal é a sua esposa, também ela idosa, também ela a vivenciar as normais (mas nem por isso menos difíceis de gerir) alterações decorrentes do processo de envelhecimento…
Preocupada com este cenário a Âncora tem procurado reflectir e encontrar soluções inovadoras… soluções centradas na família e para a família. Soluções que ultrapassam as limitações das respostas sociais típicas que não servem, de forma nenhuma, a nova geração de idosos que começa agora a dizer "estamos aqui e o que têm para oferecer não nos serve".
É neste contexto de reflexão que um dos nossos desejos para este Natal é a criação de um serviço de apoio no domicílio para a família, prestado de forma personalizada, por colaboradores com formação e experiência, durante o tempo que for necessário, quando for necessário. Pensamos aqui nos idosos, mas pensamos também em todos os membros da família… para que a pessoa se mantenha no conforto da sua casa com a certeza de que lhe está a ser prestado um serviço de qualidade, que vai ao encontro das suas reais necessidades.

Mas este é apenas um dos nossos desejos de Natal…
Quando falamos de pessoas, falamos de diferentes necessidades e de diversos papéis…
Todos nós temos vários papéis na sociedade, somos Pais, Filhos, Netos, Avós, Sobrinhos, Primos, Estudantes, Trabalhadores, enfim… somos tanta coisa, fazemos tanta coisa e depois olhamo-nos ao Espelho e perguntamos: "Espelho Meu, Espelho Meu, Afinal quem Sou Eu?"
Um Ano Novo vai começar e só se consegue pensar no que vai acontecer…a preocupação está patente nos rostos de todas as pessoas. O que vai acontecer? Na estrada que seguimos estamos a caminhar, de repente… ficou bloqueada/obstruída. E Agora: "Espelho Meu, Espelho Meu, que Caminho seguirei Eu?"
Esta nova etapa, lança-nos desafios que nos fazem pensar no futuro. "Espelho Meu, Espelho Meu, que Futuro terei Eu?".
Pensarmos no Futuro é sinónimo de pensarmos em nós enquanto pessoas que viveremos muito tempo. Mas o que sentimos quando olhamos para as pessoas idosas? O que vemos? Medo de chegar lá, mas com imensa vontade de viver o mais possível.
Tal como o Ano Novo que se avizinha, uma pergunta se impôs, o que vai acontecer? Pensar no Envelhecimento é pensar que transformações irão acontecer… "Estarei preparado?", " Como vou passar o meu aniversário quando fizer 80 anos?", "E o Natal?", "Como vou passar o Natal quando tiver 85 anos?"…
Perguntas como estas têm respostas típicas na sociedade de hoje, mas serão estas respostas suficientes para os idosos de amanhã?
A resposta a esta questão é central e traduz-se numa outra interrogação: "Como quero ser tratado(a) quando tiver esta idade de que tanto falam?".
É a partir desta premissa, e porque acreditamos que Envelhecer é uma história de sucesso, que outro dos nossos desejos de Natal é a criação de um espaço de Desenvolvimento Pessoal, onde as pessoas possam tomar consciência do seu processo de envelhecimento, que começa desde o nascimento (muito antes dos 65 anos!). Um espaço que nos possibilite a reflexão de nós enquanto pessoas e enquanto futuros idosos, repensar esta etapa atribuindo-lhe o significado dos sentidos e valorizar as recordações próprias da vida e por fim onde o Espelho possa responder ao afinal quem sou eu, que caminho seguirei e que futuro terei.
O Natal permite que expressemos os nossos desejos e, neste caso, consiste na compreensão de que todas as emoções fazem parte da vida, dependem de cada um de nós e alimentam-se da nossa capacidade de nos aceitarmos e amarmos.
Somos nós, enquanto pessoas activas do nosso processo de envelhecimento, os responsáveis por traçar o caminho, o caminho que queremos seguir e a meta que queremos ver reflectida no espelho. Este caminho é composto por muitos sentimentos, como o orgulho vs vergonha, a alegria vs tristeza, a raiva vs calma, a paciência vs impaciência, a sabedoria vs inexperiência, entre muitos outros.
A verdade é que a realidade nem sempre é cor-de-rosa. A boa notícia é que, apesar de não podermos evitar os obstáculos, podemos aprender a aceitar (sem nos conformámos - aí reside a diferença!) e a lidar com eles – não deixando que nos consumam, criando assim um novo fôlego para a vida, novas oportunidades, novas estratégias para chegar à meta.
Na Âncora queremos que os idosos olhem para o espelho e vejam reflectida a meta, assim como todos os jovens, todos adultos, todos os idosos de amanhã.
E se nos permitem mais um desejo, desejamos que toda a sociedade, de uma vez por todas, atribua um novo significado a esta etapa de vida: o da valorização, o da sabedoria, o do sucesso!
O Natal é muito mais que dar e receber presentes… o Natal é querer saber, é querer ser, é querer estar, é querer fazer, e sobretudo querer sentir! Por esta razão, neste Natal desejamos saúde para todos e que todos os corações se encham de alegria, amor e carinho, nesta época e durante todo o ano de 2012.

Votos de um Feliz Natal
Equipa Técnica Âncora Sénior
Dezembro 2011

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